O Vírus

Como num sopro éramos.

Calorosamente contentes, felizes, aglomerados, muitos em muitos espaços.

A interação era no toque, no olhar, na proximidade.

E como num sopro, um novo sopro,

Simplesmente deixamos de ser.

Nada mais de toques, de abracos, de mãos estendidas e apertadas, de contatos fisicos,

A interação agora é vitual,

A vida foi, por força da lei e da ordem, mergulhada no mundo digital.

Não nos movemos mais em multidões,

Não aplaudimos mais a Marvel em multidões,

Aliás, ela, as Olimpíadas e tantos outros adiaram tudo que exija publico físico.

A Netflix nunca foi tão presente.

Até nossos amarrotados livros voltaram à moda.

Voltaram à moda também as convivencias e familias,

As gargalhadas e os papos nas areas, nas sacadas, nas calçadas, na noites quentes,

Os cultos familiares também voltaram à moda.

As ruas nas noites se tornaram barulhentas,

E os bares vazios, as igrejas fechadas, os shoppings e cinemas escuros e fechados

Fechados os teatros, os estadios, as casas de shows.

Tudo que era publico se fechou,

Quase tudo, sobraram somente os estritamente necessarios,

Pois ainda precisamoscomer, beber e usar álcool gel,

O resto pode esperar, ou virá online,

Até mesmo a Páscoa, os Cultos e a Ceia.

Não abraçamos mais nossos velhinhos pra não perde-los,

Mantemos distância dos nossos bebês, nada mais de apertos e beijos ,

A menos que sejamos as mães cuidadoras.

Nós, que despresamos os abraços, nós que rejeitamos os braços dados,

Nós que fugiamos sos encontros...

Como queriamos encontrar alguem agora!

Até o inimigo declarado ou qualquet desconhecido.

Veriado perdeu a graça, nem lembravamos mais dele.

As casas, antes lacradas noite e dia, agora estão sempre abertas,

Com nossos velhinhos nas sacadas, garagens e areas de fora,

Prontos a esboçar um largo sorriso ao simples estranho.

Não sabemos viver desse jeito, não ainda, e não gostamos de viver assim,

Trancados, lacrados e isolados, ou vestidos como espaciais.

Mas é vital para a mossa sobrevivência.

Descobrimos que tinhamos muito agora que, por enquanto (será?), perdemos.

Estavamos seguros e festivos em nossas cidades fortigicadas.

Mas Alguém estalou os dedos, e tudo se desfez,

Agora, nos obrigamos a nos esconder em cavernas,

Perdendo dinheiro, protegendo a vida.

Somos sopro na existencia, somos nada, somos completamente vulneraveis.

Marta Almeida: 07/04/2020