Verdadeira prisão

Já não reconheço mais minha imagem

O que vejo no espelho parece miragem

Por onde anda aquele que quis mudar o mundo ?

Pensei vê-lo em mim apenas um segundo.

Todos os sonhos,planos, mudanças e quimeras

Evaporaram ao longo de antigas primaveras

Os ídolos e exemplos se desmistificaram

As ondas de mudanças silenciosamente cessaram.

O tempo, outrora aliado, bandeou-se para ser inimigo

Antes indiferente, passei a respeitar as placas de perigo

Troquei as noites de céu aberto por um seguro abrigo

Passei a enxergar muito mal além do meu umbigo.

A fé, antes cega e ilimitada, aconchegou-se acomodada

Passei a evitar trilhas e veredas fora da usual estrada

O ato de dormir sufocou a criatividade da madrugada

Cada palavra que jorrava tornou-se cautelosamente pensada.

Abandonei o heroico exílio para me fundir a multidão

Mancomunei-me com a anuência calada e silenciei o não

Acompanhado em vários grupos conheci a dor da solidão

O que convencionam como liberdade é a verdadeira prisão.