Pandemia

ocorre-me, sempre,

a dúvida inquietante

das histórias por trás

de tantas vidas

que passam

por essas ruas.

a estranheza dos olhares

acostumados a tudo

ou indiferentes ao nada

a pressa tanta para se chegar

ao lugar que não existe

aonde nenhuma coisa sustenta

estando além dos limites.

sabota-me o lado curioso

de querer saber onde pisam

esses corpos

quando se colocam a imaginar

ou a relembrar

memórias distantes

o beijo não dado

ou demorado

o término do que não foi vivido

fim das fantasias incorporadas.

agora, estando todos escondidos,

por detrás dessas máscaras

sob diversas formas e estampas

mas, sempre, mistérios

guardadores de ares afoitos

de corações em desconsolo

construímos muros sobre sonhos

refazendo, lentamente, arrepios.

somos alguns isolados

e tantos desolados

pelas tragédias e angústias

de anos cabíveis

em um único.

ocorre-me, em meio a isso,

a dúvida

aquela assombrosa dúvida

quantos nós

somos todos

ainda que individualizados?

quantos eu’s existem

dentro de nós

vários?

apesar de mim

de você

do outro

sem cessar

a vida vai, brutalmente,

acontecendo

(des)percebida

e o que há

não é

para tardar:

é pra já.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 30/12/2020
Código do texto: T7147406
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.