malungo

fujo de tudo que chamam de casa e que no final sempre me aprisiona

construi fortalezas com as minhas tendo encontros intensos de melanina que me atravessam

sigo aprendendo a fechar caminhos para que não me acessem tão facilmente

lapidando meu corpo e mente mesmo que numa falsa e falida tentativa

de seguir viva em mim quando só me restam pontos finais

não há reticências que me abarquem nos meus processos de desistências

fractais fraturas expostas e feridas abertas ... falências

meu corpo-pus compôs várias poesias escritas em bulas de remédio

que tédio mano!

não me vejo mais nessas ruas, nessas casas, nessas esquinas, nesses prédios...

aos brancos, obrigado por me tentarem fazer humana, posto que rejeito com todas as forças de quem não quer a tua humanidade, mas talvez quis experimentar o que nunca antes tinha tido

experimentar tudo, o todo e o nada ao mesmo tempo só me fez pensar que

os meus encontros mais intensos foram sim, os de melanina

não me esqueço do choro daquela menina no arco ao amanhecer duma cidade em neve e chama

choro acolhido por outras três pretas que talvez também se encontravam na lama

não me esqueço do olhar e conversa doutra mina que encontrei ao acaso

e eu só queria ter dito: "chora o que preciso for preta, mas não esquece que tudo o que nóiz tem é nóiz"

e da frase que reverbera em mim até os dias de hoje: "não precisa ser amigue pra sentir a dor e presença de outra pessoa negra"

é QUILOMBO, é UBUNTU

é ABAYOMI, é MALUNGO

ninguém nos tira e nem arranca

nossa força e fraqueza ancestral

o peso das preta que constroem essa nação

daqui (de nós), nóiz não sai

de mim (só por hoje), ninguém me tira