Tempo, valores, caminhos

A minha incapacidade em compreender

O que de fato seria o precioso tempo

Me deixa inclinado a me submeter

A um indescritível arrependimento

Como se a culpa fosse toda minha

Pela impossibilidade de dominá-lo

E acabo teorizando que ao final da linha

Estarei vendo meus sonhos indo pelo ralo

Afinal, tornaram-no negociável

De uma forma tão agressiva

Que não posso decidir sequer a variável

Restando apenas uma ação passiva

Seguindo o destino a mim traçado

De dedicar meu bem mais precioso

Submisso, obediente e calado

Para que triplique seu gozo

Me iludindo e distorcendo a realidade

Para que meu tempo esteja a seu serviço

Sob discurso de que com lealdade

Eu deixarei o status de "cortiço"

E chegarei ao status de Mangabeiras

Pois só com trabalho duro

Deixarei de ser um sem eira nem beiras

Para ter até tribeiras no futuro

E quando eu me der conta, acabou

O tempo se foi e não terei mais valor

Pois minha preciosidade se esgotou

E não terei moedas de troca com o senhor

Terei notado então

Que não vivi a vida de fato

Pois a espera de uma ilusão

Entreguei a essência da vida em um prato

Um prato temperado de sangue e suor

De religiosa esperança pelo mérito

Crente que a dita vida melhor

Seria um prêmio por ser benemérito

Mas…

Minha capacidade me fez compreender

Que o tempo é preciso de fato

E me vejo inclinado a reconhecer

O quão necessário foi cada momento

E minha única culpa em tudo

Foi querer dominá-lo

Teorizando o resultado

Quando a solução estava em desfrutá-lo

Afinal, negociá-lo ou não

Ainda que não aja de forma passiva

Não será uma opção

Pois a vida, culturalmente é agressiva

Meu destino pode até estar traçado

A dedicação pode até ser inevitável

Mas aprender com o presente e passado

E regozijar de tudo é o desejável

Já não há ilusão

Se perco meu tempo em obrigações

É apenas um ganha pão

Não uma meta de milhões

Bens materiais? Detalhes superestimados

Detalhes bem-vindos, mas não essenciais

Jamais substituirão bons aprendizados

Como aqueles trazidos dos ancestrais

E quando me der conta, apenas começou

O tempo se vai e os reais valores ficam

O brilho da vida jamais se esgotou

Para os que sempre aprendem e amam

Terei notado então

O real sentido de viver

Que não se embasa em sequer um tostão

Mas em amar, ser amado e aprender

E meu valoroso sangue e suor

Serão minha medalha de honra ao mérito

Não pelo reconhecimento do senhor

Mas por eu ser da vida um emérito!