O QUE DISSE O TARÔ
Há um segredo nos confins desta rua,
Há uma história que por aqui flutua,
Há uma de todos, a minha, a tua,
Porque a verdade há de ser nua e crua.
Qualquer pesar a alma atura,
A erva amarga, a estrada dura,
A solidão na noite escura,
Porque a esperança a sós perdura.
Dá-se ao amor o coração demente,
Empresta-se ao ódio a ferrugem da mente,
A ferro e fogo é o destino da gente,
Porque de tudo guardamos a semente.
Há um deserto para os velhos amores,
Há um jardim para novos ardores,
E há um túmulo coberto de flores,
Porque se deve enterrar as dores.
Em algum lance deste longo esporte,
Chega o azar de braços com a sorte,
E é inútil rezar à estrela do norte,
Porque ninguém vai driblar a morte.