O poema do ano

No sepulcro guardo histórias de pessoas.

Conheci dezenas delas mergulhadas em parênteses,

mas jamais avistei nos seus semblantes a queda,

elas passaram nos meus trilhos enferrujados,

notaram em meus negros olhos algo de bonito,

fizeram do meu coração um aconchego nostálgico,

amigos, amores, rivalidades; sabedoria amiúde,

versei na poética do desencontro íntimo,

caí na decrépita ilusão do apego,

disse ‘’até mais’’ e nunca mais disse nada.

Dei graças aos céus mesmo sentido tristeza.

O ano novamente passou, e eu sozinho permaneço,

os olhos viajam com as nuvens lentas,

passo as reviravoltas desta minha vida rápida,

digo no reflexo do meu rosto belo: ‘’por que viver?’’,

as respostas caem na rispidez da chuva,

entendo cair como a marca da resposta;

ciclos caem e novos sobem,

de tempos em tempos a colheita vem,

rasga as memórias que em vão guardei,

o ceifador de pessoas odeia gente como eu:

pessoa que ama plantar o que nada quer colher!

Tem gente sensível que não nasceu pro mundo,

eu não nasci, mas me obrigo a germinar,

digo isso ao meu futuro eu-possível,

um eu que irá sorrir por este passado ruim.

Novo começo para uma alma sem acalento,

o primeiro poema do ano vomita de mim,

eu não gostaria de estar agora escrevendo

algo que não se explica me escraviza pra sair,

chamado da carnificina da vida,

a que abate nossas esperanças sem tréguas,

nós rezamos por um Deus de silêncio,

e que nada acontece no deslanchar do mundo.

Desejo a todos força e misericórdia de si mesmo,

um feliz ano novo e novos recomeços!

 

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 01/01/2024
Código do texto: T7966336
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