Vida, açoite, bálsamo (da série ¨Cartas que nunca enviei¨ - 1970)

Sem nada exigir, a você eu dei bem mais do que podia,

E alguns dos seus sonhos, sem pressa e em calmaria, enfim, realizei.

As pedras do caminho, que feriram nossos pés, nos afastaram um dia.

E ao me voltar para trás, não vejo mais a estrada, não sei por onde andei.

O tempo, fugidio, feroz e incontrolável, muito depressa andou,

Levou, em tortuoso rastro, a nuvem de fumaça que escondeu o chão.

Sumiram os atalhos, os becos, as pegadas, a luz se apagou,

E como um vendaval, jogou para bem longe um débil coração.

Coração que ainda oscila entre o hoje e o passado,

Buscando inutilmente fragmentos e impressões que lhe dê identidade,

Que lhe dê um novo rosto, que lhe dê um novo nome, que o faça reviver.

Pois o que lhe resta, ao final desta viagem feita em mapa mal traçad