Rabo

se eu fosse o maior poeta das américas

certamente

aquele rabo entraria para história

como o mais bonito do ocidente

daqui de cima

com a barriga encobrindo um terço da visão

penso que

mesmo sendo um escritor semi-anônimo

acima do peso

e quase careca

esse rabo

ainda é o mais gostoso que já penetrei

queria ter o olho de vidro do pai do lourenço!

queria ter o olho de vidro do pai do lourenço!

mas sem a porra do fedor do ralo

é claro

queria ter uma foto desse rabo na capa do meu celular

no papel de parede do desktop

estampado num outdoor na roberto freire

eu queria mesmo

um-dois-um-dois

era perder vinte quilos

um-dois-um-dois

para contemplar

um-dois-um-dois

cem por cento dele

respira-respira

não dá!

um jato de endorfina te escorre

a coxa

e me faz cair sobre a cama

sob os lençóis melados

sobre o rabo

e então

você se levanta

sorri das minhas caretas

e contorções

"você fica lindo assim"

provavelmente o único jeito que

ainda vale a pena me ver

então

eu cochilo

e teu rabo passa pela porta depressa

antes das cinco da manhã

sem tomar café

com uma marca vermelha

do lado esquerdo

e deixando para trás

o peso de um corpo

um pau melado

e uma calcinha fio dental branca

com um laço na frente

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 29/03/2016
Reeditado em 06/06/2016
Código do texto: T5589134
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