Torto vivo

Eis mais uma lembrança suicida

Descasca cada metro dessa ferida

Aqueles dias sorridentes e paradoxalmente, irritantes.

Ressuscitava, nas orgias mentais do dia-a-dia.

A energia triunfante

Da presença diária que sobrevivia.

Atos, socialmente, alarmados e executados

Feito um corpo com seus dentes, ferozmente, arrancados.

O sangue jorra e cessa.

A alegria que em outrora nasceu

Agora morre, és tempo de dor e nada de conversa.

Dialética fria de instabilidade que te fodeu.

A mãe chora!

A lágrima mortífera montou seu palco agora

És o momento de sangue quente

Sede insaciável de vida e eternidade

Doentios desastres de uma sociedade demente

Cuspida no corpo rígido e belo de frialdade.

A gravata está torta!

Gritam silenciosamente: “- Ajeita-te por favor, seu bosta”.

A vela desgasta-se por um vão.

A multidão exala um vácuo sem saber o que virá

Feito um cão

Devoram a dor alheia em meio ao soluçar.

O deus verme já ordenou:

“O cardápio está na mesa. O banquete chegou”

Os talheres estão limpos

És perpétuo e nem saberás como lidar

O vinho branco foi servido

Fujam que o relógio, seu plano, executará.

Ricardo Rayan
Enviado por Ricardo Rayan em 23/04/2016
Reeditado em 23/04/2016
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