Somente Só

Me deitei na calçada dura

Para sentir a estrutura

Onde fica o morador de rua

Estava bem agasalhada

Mas a sensação é de que estava nua

De tão frio que lá estava

E o cheiro forte do chão

A sujeira e a poeira

Me deixou quase sem respiração

Então eu entendi

Porque debaixo do braço

Há sempre uma garrafa

De bebida destilada

O álcool por ele ingerido

Faz seu corpo ficar enrijecido

E a mente anestesiada

Pela cachaça danada

Nada consegue sentir

Por isso vem a dormir

Com o corpo dilacerado

Fica esperando o coitado

O outro dia chegar

Já se esqueceu de tudo

Da sua vida passada

Não se lembra de nada

Se teve família ou não

Muitos passam e nem percebem

Pois o mal cheiro que carrega

Faz a gente se afastar

Vem o sol, o frio e a chuva

E ele se encontra no mesmo lugar

Não sente sabor pela comida

Quer somente a bebida

Para poder se acomodar

E dia após dia vive a esmo

Sem coragem para se reerguer

Sua vida é um torpor sem medida

E ele somente espera

A hora da sua partida!

Gloria Guedes
Enviado por Gloria Guedes em 09/08/2016
Código do texto: T5723801
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