Tua barriga branca

é domingo

e as conversas velhas vão para o lixo da casa nova

sem uma prévia seleção

discutimos calorosamente as frustrações políticas de nossa querida esquerda burguesa

e de como gnomos fadas e ets poderiam realmente existir

eu te leio poemas bucólicos escritos ao pé do teclado

da época que ainda achava que estávamos juntos

você me acerta a colher melada de açúcar

e quase derrubar a taça do vinho-de-dez-conto

enquanto sorri quando falo efusivamente do teu cheiro de vikcy

ou de tua jovialidade dos anos 90

então

num movimento despretensioso

você levanta a blusa a fim de mostrar sua marca de cirurgia...

observo

(como eu nunca havia reparado nisto?)

...olho pra tua barriga branca

como quem olha prum queijo coalho na chapa

num dia quente

com o ventilador de teto quebrado

e uma garrafa de bohemia na mão

você não percebe

eu não comento

cantamos juntos o hakuna matata

e tudo volta ao normal

e tudo volta a calmaria

"volte sempre!"

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 13/09/2016
Código do texto: T5759803
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