Tua barriga branca
é domingo
e as conversas velhas vão para o lixo da casa nova
sem uma prévia seleção
discutimos calorosamente as frustrações políticas de nossa querida esquerda burguesa
e de como gnomos fadas e ets poderiam realmente existir
eu te leio poemas bucólicos escritos ao pé do teclado
da época que ainda achava que estávamos juntos
você me acerta a colher melada de açúcar
e quase derrubar a taça do vinho-de-dez-conto
enquanto sorri quando falo efusivamente do teu cheiro de vikcy
ou de tua jovialidade dos anos 90
então
num movimento despretensioso
você levanta a blusa a fim de mostrar sua marca de cirurgia...
observo
(como eu nunca havia reparado nisto?)
...olho pra tua barriga branca
como quem olha prum queijo coalho na chapa
num dia quente
com o ventilador de teto quebrado
e uma garrafa de bohemia na mão
você não percebe
eu não comento
cantamos juntos o hakuna matata
e tudo volta ao normal
e tudo volta a calmaria
"volte sempre!"