UM GRITO (VAMBORA)
Tarde melancólica de sábado
nuvens cinza-chumbo se avolumam.
Despreocupado, jogo na internet
ouço Adriana Calcanhoto no rádio
saudades da adolescência há muito abandonada
que deixou marcas, lembranças ainda não apagadas,
feliz ou infelizmente, impossível dizer ao certo.
Tento vencer a nostalgia, mas é difícil.
A chuva chega fraca, traz um friozinho
os pingos no vidro desenham imagens,
reproduções desfocadas de meus pensamentos
as lembranças rodopiam, agradáveis, na mente.
Penso em seguir outros rumos
acho que não consigo (não posso).
Olhando a chuva, indago-me:
quero mesmo ver outros caminhos?
É grande a vontade de chegar à janela
encarar esse feroz e enegrecido céu
desafiar a chuva, molhar os cabelos
e, ousadamente, gritar:
VAMBORA!