Rubra Chuva

Fina garoa agasalhando a calçada.

Tecido de pingos d’água, rubro véu,

desce cobrindo os postes de luz amarelada

pintando de escarlate o céu.

Edredom de melancolia amada,

és tu, chuva, sangue divino ao léu?

Esta noite perduraras em gotas vermelhas,

feito as estrelas que tu escondes?

E se te perguntarem: “Vens de onde? ”

Dirás que vieste das veias de Deus,

banhando de ferro o barro das telhas,

que corre às calhas, aos pneus.

Empoçaste as ruas de terra e areia;

vê, quanta coisa consumiste hoje.

Mesmo que fina, criaste goteira,

e afogaste a cerâmica de meu banheiro.

O que era alvo, tornaste vermelho.