Pororoca
Ela é tão rasa
Um rio de águas claras...
Vejo minhas unhas do pé
Mal bate em meus joelhos
Enquanto eu profundo
Um mar escuro
Me afogo
Em mim mesmo
Num encontro de ondas
A chamada pororoca
Eu
Ondas perturbadas
Ela
Ondas imperceptíveis
Insisto
Com as pernas
Com as ondas
Com o seio
Com as cordas da voz
Juro que tento fazer com que saia melodia
Mas falta o ritmo
O balançar das ondas
Parece apenas
Uma tempestade a vir
E quando cessa
As preliminares desta
Sou apenas
As trovoadas que ameaçam os barcos
Acompanhando a lua
Sigo intenso
Um mar louco
O mais louco
Para este encontro
Deste rio tolo
Que confunde o mar
Que afasta o mar
Que enrotina o mar
Ela tão rio
Riu de mim
Quando mar chora
Quando mar cessa
Quando mais choro
Quando cesso o encontro
Ela riu
Saindo pela areia
Quando eu mar
Abaixei a maré
Porém no outro dia
A pororoca voltou
Com ondas que pareciam afagos
E o mar cedeu
Apreciou o encontro de águas loucas
Profundas
E águas rasas
Calmas
Ela
Tão rasa...
Eu
De tão profundo,
Me afogo em mim
Todos os dias
E se minhas ondas não voltarem mais à superfície?