Do banco da praça vejo um bairro inteiro

Eu quero é poder estar em uma praça

construída aqui mesmo no bairro

e me sentar em um banco qualquer

ao lado de uma estátua de bronze qualquer

- homenagem póstuma a um desconhecido qualquer -

que ao menos 'sabe' porque está lá.

E observar os pássaros em festa

sobrevoarem afoitos os jardins cercados com arame colorido

para mendigar meia dúzia de grãos de milho que alguém jogou ali

enquanto flores exuberantes caem das árvores a todo tempo

como se compusessem um lamento em lágrimas e pétalas.

Eu quero é poder viver o tempo que me resta

e apreciar a vida calma nas manhãs agitadas

do vai e vem das pessoas apressadas

pelos inúmeros caminhos possíveis na periferia.

E poder viver mais uns cem anos...

Só para ver concretizar amanhã todos os planos

que hoje apenas não passam de sonhos.

E ver surgir ao longe o fim, solução para toda essa tristeza

que hoje toma conta de nossos corações

e nos cega diante de tanta aspereza, desumanidade e ausência.