A SACOLA

Basta um sopro de ar quente

E meu corpo infla

Repentinamente levanto vôo

Cambaleante no começo

Esbarrando nalgum poste

muro ou canela

"Desculpe", peço

Mas sacodem-me freneticamente

Até que eu esteja novamente descomedida

Acho compreensível essa acomodação geral em permanecer-se lixo

Com tantos estorvos

Mais vale o conforto da monotonia

Porém, quando vem a brisa

Ohhh, eu não resisto!

Vôo para o mais alto possível

No cume tudo o que me reprime torna-se miúdo

Mesmo os pés que me pisaram um dia, do céu, parecem pés de formiguinhas

Renuncio ao estado do ser banal

Transcendo

E em meio a esse fundo azul

Atrevo-me a pensar que sou apenas

Uma mini nuvem.