Diário de um homem de cor

Encontrei Saramago

com livros bomba na cintura e um detonador nas mãos

comprei um explosivo de letras

de 1893 com um homem no largo da mariquita

que trocava com os gringos

literatura por comida

me reconheci numa arte

e pulei os muros dos dias com ela

falei com Maquiavel o mês todo

e o reconheci no meu trabalho e na minha cidade

fui assediado pela lua

me emocionei bestamente com as ruas

fui atropelado por um caminhão de saudades

fui jogado na arena

da realidade

do pós carnaval

contra minha vontade

fui devorado

vivo

por esfinges de papel

escrevi

nas nuvens

ao léu

me apaixonei várias vezes

pelas possibilidades

da minha nossa sua

multidimensionalidade

me desenhei

pintei

recortei

re-re-remontei

ri muito

e me salvei.