Cola rato

2:28 da manhã

Sentado

Enrolando um cigarro abençoado

No meu quarto.

As vezes olho

Pro cola rato

Disposto próximo a porta,

Interessante artefato.

É a única saída pra essa peste

Que retribui o alimento roubado

Com fezes.

Olhando o cola rato

Me sinto as vezes

Amargurado

É que de rato

Ele só capturou

Um exemplar,

Um pobre coitado.

Capturou também

Inúteis moscas

E uma lagartixa branca

Que me faz sentir derrotado

Pois deturpa o objetivo

Pela indústria estipulado.

De fato, a quarentena me arrebenta

Eu me sinto enclausurado

Em infinito dilema

Falta espaço, todos os laços.

Essa cena mordaz em meu quarto

A lagartixa com uma mosca

Tão próxima a boca

Em um ataque eterno

Perpétuo, indistinto.

Nunca vai alcançar a presa.

Tão perto mas tão longe.

Me parece um fim amargo,

É sempre assim que eu me sinto.

Bebo uma cerveja,

Acendo o isqueiro

Em um estalo

Vai embora toda a sobriedade

É uma valsa.

O ar se colore,

Me sinto mais eu.

Me sinto em princípio e fim.

Me sinto o maldito rato

E me pergunto se ele

As vezes também olha pra mim.

Pequeno querubim incompreendido

Que foge

Foge y foge

Mas não há como permanecer

À espreita, com medo

Do presente, do futuro e do passado

A fome urge

Ele vai cair na armadilha

Mais cedo ou mais tarde.

(Então mais cedo do que esperava, peguei outro rato

Um pequeno filhote, amedrontado).

Ishmael Enoch
Enviado por Ishmael Enoch em 05/05/2020
Código do texto: T6938347
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