Aparências

Nada está como antes. Acordo bem cedo com os trinados dos pássaros em voos rasantes, sobre o vidro da minha janela do quarto, ainda molhado pelo orvalho, da longa noite friorenta, que passei sem ela. Não sei o que fiz, para merecer esse castigo. Durante o dia, faço minha caminhada, como de costume, em volta da Rodrigo de Freitas. Vejo muitos rostos alegres, alguns tristes, outros temerosos, com os amigos do alheio. Eu, com a minha sisudez, aceno com a cabeça aos que passam por mim, em sentido contrário. Às vezes, esses acenos são correspondidos, outras não. É normal, no ser humano a mudança de semblante, sobretudo, quando o visual é somente uma capa, camuflando o seu verdadeiro interior. A minha tristeza, mora comigo, mas eu não esmoreço. Cabe a mim, nortear as minhas vontades, verdades e desejos de ser uma pessoa consciente, generosa e atenciosa com as pessoas, mesmo ás desconhecidas. Em passos trôpegos, depois de várias horas de esforço, sento-me em um banco à sombra de uma árvore e observo novamente o vai e vem das garças sobre as mansas águas da lagoa, a procura de peixes. Bebo um pouco de água, que eu trouxe a tiracolo, ainda suada, descongelada gradualmente. Enganam-se, àqueles que vivem de aparências. A ausência dela, na minha vida, não é uma ilusão, e disfarço cotidianamente os meus pensamentos em sonhos de reencontrá-la, sem fingimentos, para que em meu rosto, as alegrias me transformem em um novo ser. Aparentemente, eu estou bem, mas por dentro, uma sensação que falta algo. Alguma coisa me diz que somente ela recompensaria a harmonia, quando nos encontramos pela primeira vez, aqui mesmo, nessa orla, com juras eternas de amor, sem aparências e sem enganos.