Vidas cruzadas
Uma linha
Uma antena que não tinha
Uma moto
Um pai de família e trabalhador
um corte profundo
no pescoço e jugular
Muito sangue
Acidente
Vida esvaindo
No sangue jorrando
Vida que olha
Que para e ajuda .
como pode e consegue
a vida esvaindo
Socorro que chega
Vida que retoma o pulsar
Vida transformada
E ressignificada
Pelo milagre constatar.
Vida escutada
Sentida e lapidada
Pela terapia modificada
E a terapeuta se vai
Em um acidente trágico
De deslizamento
Em que em tormento
O paciente tenta a terapeuta encontrar
Mas e tarde pra esta vida
Que tão jovem se foi
E não se teve como ajudar.
Ambulante que passa
E vende sua empada
E derrama sua frustração e angústia
Do desemprego enfrentar
E a família ter que sustentar.
Perdido na vida
Pede o alcoólatra
Um trocado pra cachaça comprar
Pra sua dor de estar vivo amenizar.
Passa a educadora
Que na vida sofreu
Se magoou e doeu
Mas quer ajudar
Outros que sofrem
E na vida estão a perambular.
Passa a música
Os casais de jovens
De idosos
De mendigos
Crianças também
Estão a dançar
E a vida a bailar
E anestesiar
Ao som do rock na praça.
Passam os falantes
E andantes
E uma pausa fazem
Pra um capuccino degustar
Passa a atendente
Que sabiamente
Se põe a servir
Passam palavras
Histórias sem fim
De passados antigos
Outros latentes e dormentes
Todos passaram ali
No presente
Do presente
Que é existir.
Ana Lu Portes, 13 de outubro, 2023