Vida normal
A vida passa pesada
Pesando nossos
Pecados
Tolhendo
Nossos desejos
Afogando-nos no vômito
Dos vermes
Que nos afogam
Dos amores que nos iludem
Dos desejos
Que nos encantam
Negar que nos desviamos
Onde está a lagoa
Que secou
E rachou a pele
E tanto gado morreu
Nas rachaduras da terra
E tanto sonho
Afundou nas cicatrizes
Expostas
E onde estao
As respostas
Às perguntas formuladas
E as palavras atiradas
Ao vendaval
Que nao voltam
E ainda estamos poluindo
E matando
E mentindo.
E minhas mãos tocam
O bolo
O bolo mal dividido
O bolo de chocolate
O bolo de framboesa
O rosto da camponesa
As flores do meu jardim
Sem cores
Em fase adulta
Nas ruas
Lâ mpadas queimadas
Tantas vidas alagadas
E crianças apagadas
Sem mão de obra futura
E sem promessas de cura
Nascidas antes do tempo
Dentro de bolsa família
Dentro de moças famintas.
Se eu pentear o cabelo
Cairá a juventude
A cor que comprei por pouco
Que a minha vida pintou
E marcou junto
Meu rosto.
Tenho dó
Dessa mulher que está só
Enrugada agora
Sem seu titulo de senhora
Essa senhora
Onde está.
E essa que está comigo
Nos dias frios
E tantas vezes vazios
Corajosa
de fora
Dos meus costumes
Por tanto que evitei
Por tudo que lhe causei
Tenho medo.
Nos rios pescamos juntos
No lago nadamos juntos
E nos afogamos juntos
À noite na mesma cama
Meio espiritual
Meio fora do normal
Nossa jornada
Me beija leve
Me ame breve
Como sempre foi
Toma meu copo vazio
Me enche
Me bebe inteiro
Se informe
Sobre mim
Seja comigo
Meu copo vazio
Entorna
Ainda nao bebi.
Porque sou bom
Santo? Nao,
Sinto muito
Beba meu corpo
Floresca
Beba meu copo.
Tem muita cor
Desbotando
Tem muito verde
Que de verde
É amarelo
Tem muita flor
Gira sol
Gira vida gira amarela
A vala abre a boca
E engole joio e trigo
É difícil ser
Eu mesmo
Mas sou eu em erro
As meninas
Sao felizes de garupa
E depois são montaria
São barrigas
Cestas básicas
Sao auxilio escolar
É dificil acreditar
Ainda sou eu.
Os meninos
São felizes
Montados, descartados.
Porque o mau desbotou
Suas feições infantis
Já os derrubou dos galhos
Suas mães estão chorando
Suas mães estão comendo
O palão que o diabo amassou.
Nos campos as máquinas fazem
O trabalho que era meu
As promessas ainda são muitas
No dia das escolhas
Tudo por todos
Após nada pra todos.
Foi assim que vi em sonho
Não foi assim que sonhei.
Guedes