A MORTE DAS PALAVRAS

Entrei na imensidão silenciosa e vazia…

Da casa, onde eu sabia, habitavam seres humanos.

Andei por corredores infindos

Como um ermitão a busca de um abrigo.

Até que no último degrau de uma escada

Me encontrei em frente a uma grande sala

Onde centenas pessoas, em sofás,

Que afundavam corpos,

Encontravam-se sentadas.

Em completo e pesado silencio.

Rostos sérios, olhares vagos em

Faces inexpressivas e singulares.

Sentei-me em um sofá que, vago estava,

E comecei a fazer uma análise, despretensiosa

Dos silêncios e dos olhares alheios a minha presença.

Pelo Bluetooth do meu iPhone pude captar as notícias

Que estavam sendo vistas por todos os circunstantes:

No YouTube estava passando, silenciosamente,

A cerimônia fúnebre das palavras,

Que haviam sido assassinadas, em um acidente

Que vitimou, também, o diálogo…

Ambos foram enterrados, sem cerimônia e sem despedida.

Uma mensagem no WhatsApp, comunicava aos usuários,

Que um novo tempo começava…

E todos, magnetizados, dominados, entregues,

Fascinados, inebriados,

Estavam convictos de não mais ser possível que voltassem a falar,

A cantar, a chorar de alegria ou de dor, sob o som

Alegre ou triste das palavras que morreram

E que inúteis seriam, no novo tempo que viria

Cheio de silêncios, de ausências, e olhares vazios

Que se perderiam no tenebroso céu

Da individualidade impenetrável de cada um…

Gritei para as pessoas…, mas não ouviram!

Fugi daquela sala, com medo, muito medo

De me tornar silencioso e sem palavras…

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 07/03/2024
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