Pirraças do tempo

O tempo, plana plácido nas asas da ampulheta,

voando tal como urucubaca inglória, em fuga!

O eterno, sem condão ou pendor, apenas dura segundos:

tal o despropósito desse correr do tempo.

Pirracento e monocromático, o tempo se esvai

e os anos se vão, desatinados e inelásticos!

Quanto tempo faz?!,

tem ideia ou já perdeu o contar do tempo?

Tal como um déspota insociável, nu e cru,

o tempo-carcaça galga as engrenagens dos relógios,

engendra tramas e tramoias e dana-se a fugir!

Límpido e líquido, escapa por entre os dedos,

no feitio de areia frouxa e de muita fluidez!

Chega a dar engulhos!

Como se pode ter uma relação amigável com o tempo?

Passa sem nem pedir licença;

voa independendo de premência qualquer;

pede-se no vazio do zero e nos leva junto;

e nem ao menos nos deixa escolher a cadência

e nos faz “dançar conforme a música” que toca;

nem mesmo dá para escapar,

quando se vai para além do espelho!

Resta, unicamente, a casca:

vão-se os planos e as boas intenções perde o sentido!