Olhando o trem

É tão bonito ver o trem passar

Porque ele passa

Todos os dias

Todo o dia

Mas eu sei

Que ele nunca carrega

A mesmíssima carga

A sua constância

Carrega sempre a inconstância

E aquela armação de ferro

Parece tão fria

É plena de tanto calor

Cheia de tanta vida

Leva com ele o trabalho

A doença

Os vagões transportam esperança

Raiva, desespero

Vai junto a tristeza e uma pequena alegria

Frequente pobreza

Trilha a injustiça

O ganha-pão

A safadeza

Será que viajar de trem

É tão bonito quanto vê-lo?

Eu sei com ele

Que nenhum momento

É igual

Ainda que eu queira esquecê-lo

Seu barulho me anuncia

E corro à janela para vê-lo

Rodison Roberto Santos

São Paulo, 1997

Rodison Roberto Santos
Enviado por Rodison Roberto Santos em 01/05/2024
Código do texto: T8053633
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