Quinteto - O Cotidiano

Cotidiano Surrealista

Quando tento pensar no que chamam de mundo

Disperso-me com tudo e ouço conversas

Questiono meu pensar e querer dizer ao fundo

Pois chega-me oculto e diz que são apenas falas

Mas não concordo e estou escrevendo

Sobre tais acontecimentos e fantasmas

A voz da sabedoria diz que trato como sagrado

Simples seres que apenas vivem pelas vias

Uma vez mais a solidão do imundo

Oh, façam-me desistir imagens profanas

Fizeram uma música com a dor que estavam causando

Transformando gotas de tristes amores em chuvas

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Cotidiano Jornalístico

O Amanhã chega como os fatos

A tal promessa de irresoluta alegria

Os dias de inverno são tão belos

Quanto a folha outonal caída

Sem marcas de acontecimentos

Segue-se uma rotineira harmonia

Cega por não se por nos cantos

Como a justiça, não olha por todos

Continua-se fabricando notícia

Lançam-se meninas e meninos

Falar sobre isso é manter a aparência

E a voz do mercado a produzir ídolos

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Cotidiano Mercadológico

Confusa ação, promovendo guerras diárias

é isso que nos define como seres

Se não consumimos somos párias

Assim ensina-se a chamar “nós” de “eles”

O mesmo “nós” que lhe trata como sócia

é aquele que acumula lixo durante meses

Uma natureza extinta batalhava e existia

Hoje recebo pedaços dela como presentes

Corpos tornam-se objetos de alegoria

Assistimos a isso e repetimos várias vezes

São danças de salão como na antiga aristocracia

Hoje como se chamam os novos burgueses ?

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Cotidiano Poético

Transformar em poesia a vergonha

Enquanto exigem a minha atenção

Querendo-me para o amanhã

Todo esse futuro é o meu não (...)

Pensam que desisto,

mas continuo a viver, pensar, rir e cantar,

pois hei de acordar de manhã

Disforme e sem rimas

São como o clima da cidade

Fabriqueta de idéias

Saberei fazer poesia de verdade

Um dia com ideologias e um fato,

ideologias da vida descobrindo como domar,

tristezas e alegria desse mundo tacanha

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Cotidiano Acidental

Quando parar o tráfego: outdoor ...

Para parar o tráfego: farol ...

Estruturante sistema sem amor ...

Ao lado um corpo com lençol.