quero meu amor à mão

quero meu amor à mão

como o gesto mais frugal

e comete-lo impunemente

seja no ócio ou em ofício tal

que nunca se distinga

o que lhe sejas avesso

mas que se traga ao largo

de todo o meu medo

e que lhe sinta a carne

e uma virtual saudade

porque me seja tanto e farto

pra distribui-lo à vontade

quero meu amor provisório

como a estrela mais precoce

que vive apenas da tarde

o limite da luz que não lhe guarde

e que lhe sinta as entranhas

como um discurso latente

que construa versos na praça

em gramáticas que nem se consente

quero meu amor teúdo

apesar de coletivo

e tê-lo na exata proporção

de tudo que eu não digo

quero meu amor subjetivo

como os adeuses que não dei

e remoê-lo pelo chão da tarde

na imprecisão de tudo que não sei

quero meu amor não meu

mas que se faça variado

e que tenham em mim limite tanto

por tanto que se faça vasto

quero meu amor

sem ilimites

perfeitamente desatado

e que encontre pedras em seu leito

e que encontre leito em seus enfados

quero meu amor desesperado

na falta e na presença

farto pelo que de tanto

gasto pelo que de menos

Aurélio Aquino
Enviado por Aurélio Aquino em 21/01/2006
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