A CRIATURA
A criatura
Ninguém sabia quem era ou de onde viera
Não sabiam seu nome ou se tinha algum parente
Ninguém sabia nada desta criatura medonha e feia.
À noite desaparecia na escuridão
De dia perambulava pelos becos e avenidas
Todos tinham medo desta criatura medonha
Vivia com um saco no ombro
Que guardava bugigangas que achava no lixo
As mães quando a via xingava
E dizia que o saco é para colocar criancinhas malcriadas
As criancinhas jogavam pedras e corriam com medo pra dentro de casa
Os homens a afugentava com palavrões e porradas
Dizendo ser um ladrão observando a casa para roubar á noite
Todos tinham pavor desta criatura medonha e feia
Que nunca fizera mal a ninguém
Nunca revidou a nenhum ataque de seus algozes
Nunca ouvira dizer nenhum palavrão
Nunca xingou ninguém
E nunca atacou nenhuma criancinha
Andava solitário pelas ruas e avenidas das cidades
Quando via um gato ou um cão
Tirava do seu saco um pedaço de pão e oferecia
Sendo retribuído com um abano de rabo ou um riso latido
Quando via outro mendigo dividia a refeição
Vivia assim, solitário!
À noite desaparecia de dia perambulava pelas ruas e avenidas
Mais acontece que um dia a criatura não apareceu
Ninguém a viu
As mães diziam que sumiu
As criancinhas a esperavam com pedras na mão
Os homens com armas e paus
Acontece que a criatura aparecera morta
No lixão da cidade com vários tiros na cabeça
E todos disseram que era uma boa criatura
Que nunca fez mal a ninguém só andava solitário pelas ruas
Com seu saco no ombro, quando abriram o saco!
Viram que eram brinquedos que ele consertava
Para dar as criancinhas carentes da rua.