Retrato II

Estagno na esquina e observo:

Cambaleante, pedindo esmola, passa por mim um assassino.

A prostituta de luxo derruba sua bolsa aos meus pés,

Apanho-a e lhe entrego. Recebo uma piscadela libertina.

O cão adoentado passa mancando de uma pata.

O pivete corre atrás do animal e chuta-lhe o traseiro.

Gane! Gane! Gane!

No carro luxuoso o político passeia sorrindo.

Confetes sobre o estadista. Lixo sobre a Gente.

Acena! Acena! Acena!

A anciã sai do banco contando uns míseros trocados.

- Mãos ao alto !

Corre o gatuno. Grita a velha.

O céu cinza é o prenúncio de uma tempestade,

Ou um temporal aguardado pra lavar essa sujeira?

A salvação está no templo, na igreja, no galpão improvisado,

Na boca do pastor que berra palavras bíblicas ao meu lado?

Essa máquina de dinheiro que nunca quebra.

Doa! Doa! Doa!

Viro e caminho na direção oposta. Deixo toda essa imundície pra trás.

Fabricio Oliveira
Enviado por Fabricio Oliveira em 02/12/2008
Reeditado em 27/11/2014
Código do texto: T1315511
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