MASSACRE EM BEITURE

Vejo o sangue dos inocentes de Beirute

debaixo do olhar seco dos insensíveis.

Ouço a conversa mole dos negociadores,

ali, posta na mesa suja da ONU.

Leio o ódio, sob o disfarce das crenças,

escondendo o fétido das ideologias.

E vejo as tropas da força multinacional,

pisando suas botas de chumbo sobre o mundo.

Vejo o opróbrio dos que restam, sob a mira

assassina e mercenária dos fuzis,

e as vísceras mutiladas dos tombados

nos anônimos combates da guerra fria.

Ante a ternura triste, nos olhos dos meninos,

quantos órfãos e famintos sem um lar,

sem os seus, mortos pela bestialidade

dos fabricantes impunes da solidão do medo!

Inumeráveis vítimas do massacre!...

Cinco mil mortos em Beirute

- leio nos jornais -, talvez mais de cinco.

Crime hediondo e de lesa humanidade.

O massacre de Beirute dói como ter nascido.

Será que não dói, nos vídeos e jornais,

tanta dor humana, tanta dor, tanta dor,

ante a indiferença cúmplice das nações?

( Outubro de 1982)

Fort., 08/12/2008

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 09/12/2008
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