Madame Burrô
Lá vem Dona Burocracia
Com sua tiara brilhante
Seus brincos de ouro maciço
De batom vermelho e massa cinzenta
Seus desejos comandam tudo:
Suas mãos cheias de dedos
Seus dedos cheios de anéis
Seus braços desabraçados
Seus seios desinibidos
Pena sua barriga...
(Recheada de lombrigas)
Não lhe deixar ver os pés
– Os pobres proletários –
– Os podres operários –
Chatos inchados
em chinelos de dedo...
Suas narinas não cheiram seus pés
Seus ouvidos não lhes ouvem os passos
Não se premia o seu balé
Nem se perdoam seus fracassos
Sua boca
Algum dia
Há de ficar sem voz
De tanto gritar de dor
– Dor de periferia –
Nascida no chão de fábrica
Sofrida na presidência...