Os óculos quebrados

Eu vejo tudo desregrado

Numa sociedade tão cheia de louça

Veja que incoerência, meu caro…

Fazem exigência e têm os pés na poça

Mas vejo por um prisma distorcido

O meio me deu óculos e ele mesmo os quebrou

É tanta informação passando em meu tecido

Que há dias em que não sei nem quem sou

Vejo o povo colocar as leis e quem as aplica numa margem, ou seria um pedestal?

E mandar o espaço urbano, seio das causas sociais, pra outro rio…

Quem me dera que isso fosse só uma miragem hibernal!

Daqui a uns anos, eu não quero ver meu país chorando em lugar frio

A moda é ser hipócrita, virou sonho de consumo

Hipocrisia resolve tudo, dá status, virou troféu

Pro meu olhar qual pode ser o melhor rumo

Senão ficar querendo admirar o céu?

Mas poetas gostam de observar a sociedade

Por isso Drummond sentava-se de costas pro mar

Só me resta uma grande curiosidade:

Quantos juízes ele terá visto passar?

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 25/04/2009
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