JANELA DISCRETA

Nenhum corpo caído,

nem donzelas perdidas.

Nenhum televizinho,

Nem encontros secretos .

Só um monte verdinho,

uma nesga de céu azul,

um rochedo , um riacho,

muitas aves que singram !

Nenhuma persiana,

a esconder desavenças.

Nenhum homem-aranha

Prisioneiro na teia .

Só um carro-de-bois

a gemer pela estrada.

Um campo colorido

de florinhas silvestres.

Nenhuma toalete

de vidraça embaçada,

a projetar silhuetas

do mais secreto íntimo !

Só as nuvens que passam

ligeiras , surrealistas ,

e as violáceas onze-horas

que se abrem às doze!

Nenhuma floresta de fios,

de antenas e garranchos .

Nenhum lixo revolvido ,

por homens-ratos urbanos !

Só uma densa capoeira

de estridente sinfonia ,

sob um sol sem a cegueira

da fuligem da torpeza.

Nenhum metâno ou GLP,

conduzindo um homem à morte .

Nenhuma guerra dos sexos ,

nenhuma luz da eterna insônia.

Só uma janela discreta ,

um cartão divinal postal ,

onde a mansidão é um sonho

e onde este sonho é real !!

SBC-SP-José Alberto Lopes®

21/05/2005

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 23/05/2006
Código do texto: T161290