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(Tirado do meu quarto livro de poesias: O Trem e o Plebe)

“É duro falar de amor onde só há hipocrisia.” 20/10/02 23h06min

Lá estava um mendigo na calçada

com a barba grande e o cabelo também;

fedido, jogado, isolado, atônito,

com a boca no chão, no desdém...

Suas vestes davam nojo aos meus olhos

infames, humanos e tão carnais.

Ele estava comendo pó como as serpentes

e jogado às traças pior que os animais.

Quem passava perto cuspia ao seu lado

por causa da visão e do grande fedor,

mas ninguém jogava uma moeda pra ele

ou perguntava: “– Precisa de algo senhor?”

Claro que não! Sociedade hipócrita!

Pregam a paz e amor na televisão,

mas em troca querem mais dinheiro,

fama, poder para seu clã e pra sua mão.

A criatura de Deus estava comendo pó...

Parecendo que ele era a besta amaldiçoada.

E eu que estava sem nenhum tostão

senti que a peleja já estava acabada.

Para Deus aquela alma vale mais que

todas as riquezas do mundo inteiro!

Aquela alma vale a mesma quantia que

o milionário e o seu pequeno herdeiro.

Aquele louco fedido dormia tranqüilo

ao efeito da pinga por Deus condenada,

sem conta pra pagar, sem ter onde morar...

Lá estava o mendigo na calçada...

28/10/02 23h04min

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 05/06/2009
Código do texto: T1633914
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