A BOCA

Nada contamos, pouco sabemos,

e mesmo a quietude aparente

não consegue calar.

E a minha boca sufoca,

e a minha mente se corrói...

Não sou eu quem dita as regras,

nem tampouco vou atrás

de respostas impostas, dissimuladas,

como praga no estio,

como canivete nos dentes.

Esse alfinete que alfineta

a verdade e esconde o real

é um aguilhão encoberto,

uma ferida aberta e não tratada

que danifica as lembranças,

que martela os pensamentos,

que destrói e nos agoniza.

E nos conduzimos incertos,

vacilantes, temerosos, inconstantes,

e a minha boca se aperta.

Entre o escarcéu e os conflitos,

resta-nos apenas tracejar o finito.

Sem que se faça simetria,

sem que se amordace o bradar,

há de se abertamente defrontar

com a realidade, o coexistir.

Deixaremos os sofismas, os embustes,

preferindo reeducar a mente

e sair do marasmo oscilante

para desfrutar a verdade permanente.

São Paulo, 13 de julho de 2009.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 16/07/2009
Código do texto: T1702840
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.