A BOCA
Nada contamos, pouco sabemos,
e mesmo a quietude aparente
não consegue calar.
E a minha boca sufoca,
e a minha mente se corrói...
Não sou eu quem dita as regras,
nem tampouco vou atrás
de respostas impostas, dissimuladas,
como praga no estio,
como canivete nos dentes.
Esse alfinete que alfineta
a verdade e esconde o real
é um aguilhão encoberto,
uma ferida aberta e não tratada
que danifica as lembranças,
que martela os pensamentos,
que destrói e nos agoniza.
E nos conduzimos incertos,
vacilantes, temerosos, inconstantes,
e a minha boca se aperta.
Entre o escarcéu e os conflitos,
resta-nos apenas tracejar o finito.
Sem que se faça simetria,
sem que se amordace o bradar,
há de se abertamente defrontar
com a realidade, o coexistir.
Deixaremos os sofismas, os embustes,
preferindo reeducar a mente
e sair do marasmo oscilante
para desfrutar a verdade permanente.
São Paulo, 13 de julho de 2009.