Tempo que não volta
Ao entardecer
vejo rostos coloridos pelo contraste
entre os alaranjados e o enegrecer
e vagamente me confundo estonteada
com as vorazes luzes da disparada.
Um canto piado e o alarido do sabiá
me fazem observar as poucas árvores
desdenhadas entre o muro e o meio-fio.
Não há lugar de solfejo nem de bocejo...
O piscar de faróis atordoa meus ouvidos.
Ah, se a noite viesse mansa
em seu alegre cortejo de meditar!
E o doce murmúrio do rio expressasse
toda a nossa angústia de não falar!
Ah, as vozes que sofregam sem perceber!
Não quero respirar esse ar malfeito
que aos poucos nos empurram sem podermos
nos defender dos ataques rivais da megacidade,
desprovida de beneces e coração compungido...
Ah, se pudéssemos voltar atrás!
São Paulo, 16 de outubro de 2009.