Cidadão

Graves e agudos

são os sons que me rodeiam.

Fazem de mim

um livre prisioneiro

desta grande cidade.

No cubículo que me sufoca

quatro paredes de concreto

liricamente me dizem

que tenho um apartamento

e devo ser feliz ( muitos têm por teto o viaduto ).

Há um cheiro impregnado

de violência no ar

e meus olhos astutos

desenvolvem diariamente

o senso do perigo.

Esta cidade que não dorme

diz também que exijo demais

quando, mal humorado,

acordo às 4 da madrugada.

Nas linhas Bairro-Centro

sou privilegiado quando pego

com muita sorte, um banco vazio.

Me espremem, me empurram

quase me esfolam

mas não digo nada

e sinto-me terrivelmente bem

quando chego à repartição

VIVO!

Em compensação

o "rush" é sempre melhor.

Tenho a nítida impressão

de que não sofro de solidão.

De volta a casa

vou repousar enfim

numa gaiola deslumbrande

com porteiro, elevador

e que alívio- com grades de segurança

pois, distraído que sou,

talvez quisesse de repente

num sonho tresloucado

voar feito um pássaro sem juízo.

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 15/11/2009
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