Por um triz, meretriz
Por um triz, meretriz
Nas noites mundanas,
pinto a boca de vermelho,
penduro argolas douradas,
mudo roupas grudadas e
cruzo as pernas em x.
Flagelo meu corpo
à espera de um regalo,
que toque meu ventre
em troca de um troco,
para o próximo almoço.
Certa noite dormi com um espanhol,
enrolava-me no seu cachecol.
Deu-me caxemira, leques e sapatilhas,
deixou-me naufragada de tanta espera.
Em meu cais ancorou um rei,
Um frei e um homem da lei.
A todos abriguei entre vinhos,
linhos, cetins e jasmins.
Ensopavam meus lençóis
até que as trevas os abrandassem.
Os corpos foram deixando cicatrizes
Na minh’alma encardida pela fadiga.
Guardei meus silêncios fugitivos
para a partida.
A dor cai no esquecimento
e volto à lida.