Por um triz, meretriz

Por um triz, meretriz

Nas noites mundanas,

pinto a boca de vermelho,

penduro argolas douradas,

mudo roupas grudadas e

cruzo as pernas em x.

Flagelo meu corpo

à espera de um regalo,

que toque meu ventre

em troca de um troco,

para o próximo almoço.

Certa noite dormi com um espanhol,

enrolava-me no seu cachecol.

Deu-me caxemira, leques e sapatilhas,

deixou-me naufragada de tanta espera.

Em meu cais ancorou um rei,

Um frei e um homem da lei.

A todos abriguei entre vinhos,

linhos, cetins e jasmins.

Ensopavam meus lençóis

até que as trevas os abrandassem.

Os corpos foram deixando cicatrizes

Na minh’alma encardida pela fadiga.

Guardei meus silêncios fugitivos

para a partida.

A dor cai no esquecimento

e volto à lida.

Fátima Cerqueira
Enviado por Fátima Cerqueira em 28/07/2006
Código do texto: T203718