poema à burocracia
os birôs
de militar postura
escondem dentro de si
mortes e amarguras
e se fazem urgentes
ao explodir a prática
num coito desinformado
entre o homem e a máquina
o documento
tem uma face lógica
e suores subentendidos
e risos datilográficos
e em cada ângulo de si
traz sempre a serenidade
de um efêmero processo
de negação da vontade
o funcionário
posto em sua função
de cidadão consentido
inventa no dorso das letras
um pretenso objetivo
de concluir contra o próximo
qualquer viés proibido
nessa estatal caminhada
de consumir seus sentidos
o funcionário e o birô
pastam letras e matemáticas
e se se dão à razão
se suicidam na prática
pois um birô requer
como arquivo latente
a vontade do funcionário
presa num documento
e se se forma a fração
nessa proporção burocrata
o funcionário torna-se birô
de estranha matemática
pois em não sendo mobília
é um móvel estatizado
com a mesma sem razão
do erro datilográfico