Balada ao menino da Etiópia
assim como um soluço cárneo
de uma textura tão substantiva
medes o pranto pelo teu crânio
do tamanho de toda a tua vida
tens na palavra um verbo intransferível
e a solução mais lógica do teu corpo
é destrinchar os palmos de tristeza
no metabolismo inconsequente do teu uso
trazes nos olhos
maravilhas mortiças
aposentados da vida
não vêem e às vezes fingem
fogem do teu corpo
poses laceradas
um negativo irresoluto
dos que te guardam na alma
teu valor-de-uso
é um tanto inadequado
antes te fizeram gente
hoje te conseguem gado
tua cabeça pesa um tanto
dessa fome que esquadrinha o corpo
e que te tem quase em condição
de te atestarem como morto
mas por sobre tua fronte
apontado no teu sonho
há um desconforto enorme
de todos que te olhem