O homem e suas maiores tentações...


O homem e suas maiores tentações...


Ordenar e destruir...

Alterar o ciclo da criação...

Jogar o caos e com sangue diluir


Modernizar a todo custo

Postular a eternidade sendo esculpido em um medíocre busto

Verter sua insanidade peculiar

Açoitar a terra, a água e o ar


Deleitar-se de seu vil opúsculo

Planejar mórbidas obsessões a cada crepúsculo

Sugar as criaturas infantes aos seus poluídos rios

e contaminá-las pelas fezes de seus desvarios


Aonde chegaremos?

O que nos restou desta festa secular?

Qual de nossas gerações habitará um respirável lar?


Um ilusório teatro nos consome

Marionetes circenses sustentadas pela fome

Falsos profetas celebrando cultos de arremedo

Tênues almas em forma de brinquedo


Santa devastação

Regendo a sinfônica orquestra da putrefação


A cidade esconde lacunas sombrias

Espectros de fogo afagam nosso cruel pesadelo

Nos tabuleiros de asfalto rolam os dados

Clamam as seis faces o fim dos destinos viciados


O homem e suas maiores tentações...


Criar seu próprio reino imaginário...

Trono fincado em um barraco sanguinário

Seita urbana doutrinada pela benção da carnificina

Reis coroados em luxuosas grades regadas à cocaína

Crianças de outrora hoje são adultos sem glória


Florestas devastadas

Tormenta cruel rasgando a alma do céu

Empoeirando o chão salvo por Noé

A arca se foi, a era moderna chegou

A cifra verde em suas faces brilhou


Deuses e Santos lembrados

Para tentar cobrir seus anseios de perdão

Enganando seus lençóis desacreditados

Com sua hipócrita e mal decorada oração



A autoritária paranóia

contida nos frascos de suas veias manchadas

pelas nódoas de sua história

Feto indigesto aos olhos atemporais

Pérfido exterminador de animais


O homem e suas maiores tentações...


O que tirastes de lição das estúpidas batalhas?

As douradas e inúteis medalhas?

Em qual exército desfilamos nossos passos errantes?

Até quando participaremos de lentos desfiles soluçantes?


Onde estão as calmas noites de luxúria?

Os bons tempos onde saíamos calmos pelas ruas?

Uma rajada eclética de monstruosidades tocou os seios

do inferno

e se alimentou com filhos eternos em suas diárias aventuras nuas


O homem e suas maiores tentações...


Abrigar nas praças mutilados fantoches humanos desprezados

Com as pernas enfermas em um corte púrpuro de morte

Dentes escassos

ferindo a dignidade da boca dos contemporâneos escravos

Proximidade do abismo

Louvemos nosso choro de cinismo

Somos corvos rodeando seus restos vivos


Lembram-se das fadas encantadas daquelas estórias de infância?

E os livros bordados de viajantes sonhos?

Capítulos em medievais lendas entrelaçadas

rasgadas pelas mágicas imaginações aladas

Para onde fugiram?

Quando voltarão?


O nascer é uma benção...

Lambuzado de leite materno

E o resto?

Um embriagado drink no inferno?


O homem e sua maior preocupação...


Encontrar a saída de seu próprio labirinto perverso...

Olhar para o espelho e sentir a brisa

trazendo a inquieta indagação do universo:

Como viverá monte de pele e ossos?

Escapará ileso de seus próprios destroços?


Olá Recantistas!
Essa poesia faz parte do meu livro intitulado "Lunático", o qual foi lançado em Fevereiro de 2009 e pode ser adquirido pelo contato deixado neste site.

Obrigado,

Evandro Luis Mezadri