Olhinhos chorosos...
Andando pelas ruas da cidade, certo dia
Observei a triste realidade ao meu redor
Crianças famintas pedindo algo para matar-lhes a fome
Crianças sedentas pedindo um pequeno copo com água
Crianças... desprezadas, mazeladas, desesperançadas
Pude ver a tristeza em cada olhar
Pude ver a dor de quem dorme no chão gélido das ruas...
Quando de repente um acontecimento abalou a calmaria dos transeuntes
Percebi um pequeno tumulto ao redor de algo estendido no asfalto
Aproximando-me e atravessando a barreira humana
Vi o objeto, o alvo de olhares incognitivos
“Aquilo” era uma criança, uma pequena criança...
Por que ninguém fazia nada para socorrê-la?
Por que ninguém ajudava?
Todos apenas a olhavam com dó, mas não agiam
Corri, ajoelhei-me e segurei-a em meus braços
Ao seu redor havia uma poça de sangue
E aquele sangue frio escorria sobre minhas mãos
Aquela inocente criança olhava para mim
Como se eu fosse sua única esperança
Meus olhos fitaram seus pequenos olhinhos a derramar densas lágrimas
Sua mãozinha frágil agarrou a minha como que pedindo para eu não deixa-la
Ela abriu a boca para falar-me alguma coisa
Mas não pude decifrar tais palavras
Foi quando ela levou sua mão até a barriga
E pude entender uma única palavra: “FOME”...
Depois ela inclinou a cabecinha para o lado e expirou
Ali em meus braços aquela criança morreu
Morreu de dor, morreu de fome e eu nada pude fazer
A ambulância chegou, levou seu corpinho frágil e debilitado embora
E cada um voltou ao seu caminho, à sua rotina
Como se aquela cena fosse mais um acidente para os dias corriqueiros
Depois eu descobri que um carro tinha atropelado-a
E o motorista disse não ter visto a criança
Ele pensava ser apenas um “montinho de lixo”
Todos voltara as suas vidas normais
Mas eu continuo a ouvir a palavra “FOME” ecoar em meus ouvidos
E aqueles olhinhos chorosos continuam a fitar-me pedindo ajuda