FECHO OLHOS E VEJO

Fecho os olhos e vejo revoar de letras sangrando

Com pálpebras abertas aos mundos doloridos

Impossível não ver a devastação próxima

Por mais que me mandem tapar os ouvidos

Ainda ouço gritos nas masmorras e abismos

Clamando por piedade com olhos deprimidos

Não me basta ser feliz e tapar olhos egoístas

Mesmo tapada a visão ver saga de desvalidos

Mãos estendidas gestando por socorro

Moribundos, famintos seres a vagar desnutridos

Cujas retinas opacas fitam aflitas o oco do mundo

O roncar das vermes nos rostos pálidos e sofridos

Fechar os olhos para tudo não é função do poeta

Mas um gesto covarde perante problemas repetidos

Nas faces pálidas, nos olhos secos sem lágrima sequer

Vítimas de um mundo que ostenta jardins coloridos

Escondendo as chagas dos rebentos, filhos teus

Pátria amada que idolatra colarinhos corrompidos