Hoje a passeata chorou

Você era o mais vibrante dos alunos da escola

Você sorria radiante, você lutava até por bola

Hoje você se cala, mas a luta continua

O povo ainda rala, ainda clama, ainda sua

Hoje a passeata chorou pela falta de você

Quem não te viu chorar

Não consegue mais te ver sorrir

Quem te viu lutar

Não aceita o seu fugir

Quando a tortura começava você era o mais valente

E se a dor apertava a sua força era na mente

Hoje o país é outro e a tortura é de outro tipo

Mas existe e você nada, como se não fosse mais contigo

A nossa música, você lembra? Era forte, era protesto

A utopia era o que importava, pra depois ficava o resto

Hoje, saudoso, eu visito aquelas praças que tinham vida

Pra dizer aos meus olhos que buscamos uma saída

Todo dia olho no espelho e me orgulho daquelas bolinhas

As de gude, que jogamos, pra derrubar cavalarias

Imaginas como me dói escrever-lhe estas linhas?

Assistindo-o ir à TV dizer tantas patifarias?

Quem teve ânsia de justiça, não se acostuma à covardia

Quem quis mudar o mundo, não o vive sem magia

Não sei como você pode ter vendido a sua alma

É triste, é deprimente, não me peça pra ter calma

Hoje a passeata chorou pela falta de você

15 de Agosto de 2010,

*Ana Helena Tavares, jornalista por paixão, escritora e poeta eternamente aprendiz.

Livremente inspirado em "Quem te viu, quem te vê", de Chico Buarque.

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 16/08/2010
Código do texto: T2441645
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