RETRATO DA VIDA
Há na rua um silêncio maligno
Um silêncio fúnebre com cheiro de morte.
A morte ronda.
Procura vítimas na calada da noite.
Andam pela noite
Os justiceiros;
Os carrascos;
Os pistoleiros;
Os viciados;
Os traficantes;
Os mendigos;
As prostitutas;
Os policiais...
A violência impera na cidade.
Muitos morrem, outros matam.
Todos temem e se escondem
Atrás do medo;
Atrás das armas;
Dentro das casas...
Há uma individualidade absurda.
Há uma falta de solidariedade imensa.
Ninguém vê nada.
Ninguém sabe de nada.
Ninguém diz ou faz nada.
E a marginalidade cresce
Junto com o medo de uns
E o descaso de outros...
Problemas sociais
Raciais
Políticos
Culturais
Espirituais.
Problemas arraigados
Na alma e no bolso dos brasileiros.
Falta esperança nesse povo
Antes, tão simples, tão alegre,
Hoje, tão amargurado, tão corrompido,
Marginalizado pela falta de alguém
Ou de alguma coisa para crer.
E a violência enche de corpos
As ruas;
As sarjetas;
Os necrotérios;
Os cemitérios,
Todos, vítimas da violência
Ou do medo que se esconde atrás dela.
Brasil, país desolado,
Isolado,
Exilado
Porque é o retrato da fome
Do analfabetismo,
Da desnutrição.
Falta quase tudo para quase todos
E sobra muito para uma pequena parcela
Privilegiada que vive esbanjando riqueza
Indiferente a miséria que a cerca,
A fome que está ao seu redor
E que faz vítimas na calada da noite
Dando as cidades um toque de horror,
Um silêncio fúnebre com cheiro de morte...