ROSTO DE MULHER
Era tarde, as tarefas haviam cessado.
Olhei para um espelho velho, quebrado, e vi um rosto de mulher.
A chuva caía mansamente com timidez feminina.
A imagem do horizonte se escondia por trás da poeira do vidro de uma janela.
O morro não parecia o mesmo naquele dia.
Os homens haviam voltado da labuta.
Mas cá, do lado triste da selva gigante, só tiro se escuta.
Os homens não aprenderam a tricotar de tardinha.
Por isso a paz ninguém garante.
Uma bela mulher gorda sai do mercado com seu carrinho esbarrotado.
Todo cheio, do tamanho de sua ganância.
E ainda não saciou sua ânsia.
Uma figura fina anda por toda a casa,
Veste saia à moda antiga,
Parece crente, protestante, de todos amiga.
Seu cabelo caído sobre os ombros esconde o rosto de quem prepara o pão.
Um jeitinho aqui outro ali e está preparada a refeição.
Vejo seu homem se queixar da intriga.
Tudo é culpa da vida, cruel inimiga.
Um beco sem saída.
Uma vida de rapariga de pé no chão.
Para a chuva.
Cessa o gotejar.
Um zumbido de além cruza o morro até ferir alguém.
Cai, o pobre rosto, ao pé de seu espelho e lá se agita em seu próprio sangue.
E se despede de sua breve vida.
O que foi?
Uma bala perdida, sem dono, sem destino até encontrar um rosto no espelho.