ROSTO DE MULHER

Era tarde, as tarefas haviam cessado.

Olhei para um espelho velho, quebrado, e vi um rosto de mulher.

A chuva caía mansamente com timidez feminina.

A imagem do horizonte se escondia por trás da poeira do vidro de uma janela.

O morro não parecia o mesmo naquele dia.

Os homens haviam voltado da labuta.

Mas cá, do lado triste da selva gigante, só tiro se escuta.

Os homens não aprenderam a tricotar de tardinha.

Por isso a paz ninguém garante.

Uma bela mulher gorda sai do mercado com seu carrinho esbarrotado.

Todo cheio, do tamanho de sua ganância.

E ainda não saciou sua ânsia.

Uma figura fina anda por toda a casa,

Veste saia à moda antiga,

Parece crente, protestante, de todos amiga.

Seu cabelo caído sobre os ombros esconde o rosto de quem prepara o pão.

Um jeitinho aqui outro ali e está preparada a refeição.

Vejo seu homem se queixar da intriga.

Tudo é culpa da vida, cruel inimiga.

Um beco sem saída.

Uma vida de rapariga de pé no chão.

Para a chuva.

Cessa o gotejar.

Um zumbido de além cruza o morro até ferir alguém.

Cai, o pobre rosto, ao pé de seu espelho e lá se agita em seu próprio sangue.

E se despede de sua breve vida.

O que foi?

Uma bala perdida, sem dono, sem destino até encontrar um rosto no espelho.

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 12/12/2010
Código do texto: T2668053
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