Causo de um historiador
Esse negócio de história
Não era o meu sonho primeiro.
Eu queria ser era engenheiro,
Advogado, doutor,
Um cientista inventor...
Mas nunca tive boa memória,
Também não gostava de ateu!
Triste preconceito meu.
Abandonei os estudos,
Pus-me a andar pelo mundo,
Vejam no que sucedeu:
Um certo dia, Zaqueu,
Primo de Zebedeu,
Dois grandes amigos meus,
Dos tempos de Abraão,
Residindo no Japão,
De posse do Alcorão,
Lendo treze versículos,
Me fez essa narração:
Em pleno hemisfério polar,
Às dez horas da madrugada,
O sol brilhava nas trevas da escuridão,
Enquanto um homem nu,
Completamente nu,
Com as mãos nos bolsos,
Sentado numa pedra redonda,
De quatro quinas,
Lendo o seu jornal sem letras
De cabeça para baixo,
Calado dizia:
Os quatro profetas do mundo
São três: Jacó e Elias.
Mas nem me perguntem
Se eu tenho
Uma cópia da edição,
Pois a princesa Hichirrata,
Irmã do príncipe Nakata,
Ainda no aeroporto,
Eu já pegando o avião,
Ao me ceder um autógrafo,
Vendo que eu tinha nas mãos
Um papel amarelado
Com jeito de antiguidade,
Em nome da autoridade,
Quisera saber na verdade,
O que continha o papiro.
Vixe!!!
Quando me refiro à cena
Fico logo arrepiado.
Passei dez anos encanado,
Como ladrão de museu.
Pra sorte e consolo meu,
Lá um belo dia,
O rei mandou me chamar.
Disse: eu vou te deportar,
Mas preste bem atenção,
Meu rapaz, aqui no Japão,
Um achado histórico em mãos
De pessoa inadequada
É uma bomba relógio,
Prestes a ser detonada.
Tu és um homem de sorte,
Pois tua pena de morte
Acaba de ser cancelada.
É que a cada centenário
Do código judiciário,
Aqui se indulta um ladrão.
Há pouco foi o sorteio,
Ou seja, há um minuto e meio,
Tu te tornaste um azarão.
O último foi um nordestino
E, por ironia do destino,
Acabo de me encontrar
Com a tua ficha na mão.
Mas ouça o que vou te dizer
E grave na tua memória.
Passe a estudar história,
Seja lá em que tempo for,
Pois ser historiador
É acompanhar o tempo,
A vida e a tradição,
Conhecer a criação,
A tese e a filosofia,
É transferir sabedoria
Da vida para o papel,
Se tu fosses um bacharel
Aquele velho papiro
Não te seria tomado,
Tu não serias condenado
E terias ido livremente.
E muito provavelmente
Tornar-te-ias um professor.
Quem sabe, um investigador
Da nossa histórica herança,
Um homem de confiança
Da corte do imperador.
Assim se deu, e lá fui eu,
Daquele dia em diante
Relembrando àquela hora
Dos ditos do tal monarca
Eu encabulado andante
Mais tarde seria um estudante
Das coisas da antiguidade
Do tempo médio e moderno
E da contemporaneidade.
Assim deu-se a história.
Pois bem, aqui estou eu!
Como outros companheiros meus,
Especializado em História,
Pra ensinar e aprender
Por esse mundão afora.
Sujeitos capacitados,
Peritos, gabaritados,
Prontos aqui e agora.
Se é que somos formados,
Pé na estrada.
Sempre é a hora.
Autor: Messias