ENCHENTE

A casa está caindo,

As portas estão rangendo,

As janelas emperradas,

Lá fora está chovendo.

A crise se abateu,

Os armários estão vazios.

Não mais que os estômagos.

Dentro tremendo de dor,

Fora de frio.

Os cobertores

Não passam de trapos,

Cobrem os cães

Acomodam os ratos.

Cobras, sapos,

Aranhas e lagartos,

Fazem da casa o seu lar.

Pobre família

Não tem mais onde morar.

O dinheiro se acabou,

A dor aumentou,

Diminuindo a esperança.

Que nunca houve na verdade.

A chuva cresce,

A casa treme,

Não mais que as crianças

Que temem

Não crescer.

Agora virou enxurrada,

O homem está desolado

A mulher desesperada.

Quando tudo começa a cair,

Nada podem fazer,

Não vale a pena fugir,

Diante do nada

Que acabam de perder.

A água invade buracos

Que antes eram portas, Janelas.

Já alcança as canelas das crianças.

Todos esperam

Numa prece silenciosa,

Que tudo acabe,

Ou em verso,

Ou em prosa.

Mas a chuva leva tudo

Nessa noite

Interminável.

Leva tudo

Desses moribundos,

Desses pobres desgraçados.

Agora a chuva passou,

O céu cansou de chorar,

O resgate chega

E com horror fica a olhar.

O desastre e seu pavor.

Na lama, corpos jogados,

Sobre eles,

Ratos por todos os lados.

Sorte!

Afinal alguém se salvou

Nessa enchente do terror.

Antônia Lopes
Enviado por Antônia Lopes em 26/11/2006
Código do texto: T302186