EXHOMEM (Reflexões de ninguém)
Havia um homem (?)
Cheio de feridas
O corpo
Era uma chaga viva
Tinha os cabelos cacheados
Como os de crianças
Como o dos anjos...
Mas o que dele exalava
Era mistura
impensável
das feridas
do suor
da sujeira
da bebida...
Era insuportável...
Outro homem (?)
Caído ao chão
Seu sexo murcho
à mostra
não continha maldade alguma
não.
Desmaiara
Dormia
Ou morria
Ninguém sabia
Ou procurava saber
Outro homem(?)
Uma mulher
A louca
Sem roupa
pelas ruas
em confusão
Levava empurrões
Socos e pontapés
Por pedir
Um pedaço de pão...
Quem é louco?
Quem é são?
Sabes quem és?
Outro homem (?)...
Doente mental (?)
Era flanelinha
A ele
Todos enganavam
Com alguma mixaria
Algum doente moral
Intelectual...
Mas aquele
de fome
e abandono
enlouquecia...
se ria...
chorara
toda lágrima
que na alma havia...
algum dia...
Deus!
Que horror
É tudo isso
que vejo!
Sinto vontade
de morrer...
E morro
em cada curva
ou pedaço
daquele chão
Em cada rosto
que morre
a padecer...
um irmão
Em cada rua
Meus olhos
se arrastam
pelas calçadas
atormentados
pela aflição...
E ainda assim
Olhando para trás
Consigo ver
Os pedaços
do meu coração...
Dos meus braços...
Das minhas mãos...
Que lá ficaram
Para aconchegar
afagar
E cuidar
de meus irmãos...
Mas isso
ainda
é tão pouco
ou nada.
Pensam
pisoteados
os vestígios
do meu coração...
Se são, se somos,
se sou
exhomem
se tens
se tinham
se tenho
algum nome
já não sei
isso está além...
Agora
por enquanto
isso
são reflexões
de ninguém...