Pó de ferro

Havia mais tristeza nos seus olhos

Do que toda a felicidade

Que eu pudesse sentir

Eu era só mais uma semente de abrolhos

Se espalhando pela cidade

Podado pela raiz

Meus olhos ainda criança

Guardam todas as lembranças

Daquele tempo feliz

Quando na minha inocência

Eu batia continência

Aos senhores tão gentis

Meus soldadinhos de chumbo

São sonhos que ainda deslumbro

Prostrados de sentinela

Eram fardas sem soldados

Eram espinhos camuflados

Eram flores de lapelas

Sobrevoavam em corvos

Pairando sobre o estorvo

Os olhos fixos no chão

Na minha insignificância

Era mais uma criança

Num parque de diversão

O quarto escuro ainda me assusta

Eu cresci com medo de bruxas

Fui plugado à televisão

E se hoje assisto o dia pelas frestas

Pelos raios que jorram promessas

Quando abro o meu alçapão

É porque os resquícios do ontem

Viraram sim, todos os monstros

Que agora rugem de suas celas

E assim, como eu que nunca ruge

De ferro só pó de ferrugem

Guiado pelos olhos da vela

Da vela fiz, sim

A minha sentinela

A minha sentinela

petronio paes frança
Enviado por petronio paes frança em 22/11/2011
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