Pó de ferro
Havia mais tristeza nos seus olhos
Do que toda a felicidade
Que eu pudesse sentir
Eu era só mais uma semente de abrolhos
Se espalhando pela cidade
Podado pela raiz
Meus olhos ainda criança
Guardam todas as lembranças
Daquele tempo feliz
Quando na minha inocência
Eu batia continência
Aos senhores tão gentis
Meus soldadinhos de chumbo
São sonhos que ainda deslumbro
Prostrados de sentinela
Eram fardas sem soldados
Eram espinhos camuflados
Eram flores de lapelas
Sobrevoavam em corvos
Pairando sobre o estorvo
Os olhos fixos no chão
Na minha insignificância
Era mais uma criança
Num parque de diversão
O quarto escuro ainda me assusta
Eu cresci com medo de bruxas
Fui plugado à televisão
E se hoje assisto o dia pelas frestas
Pelos raios que jorram promessas
Quando abro o meu alçapão
É porque os resquícios do ontem
Viraram sim, todos os monstros
Que agora rugem de suas celas
E assim, como eu que nunca ruge
De ferro só pó de ferrugem
Guiado pelos olhos da vela
Da vela fiz, sim
A minha sentinela
A minha sentinela